Projeto da UnB para pessoas com deficiência visual avança em prêmio nacional de inovação

Equipe de comunicação do DPI

 

002

 

Uma iniciativa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília (UnB) vem ganhando destaque nacional por propor soluções tecnológicas para acessibilidade. Sob a coordenação do professor Renan do Nascimento Balzani, a equipe desenvolveu um projeto voltado a pessoas cegas e com baixa visão, que foi selecionado como um dos semifinalistas do Desafio Bengalas Inteligentes, promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) em parceria com o Governo do Paraná.

A proposta apresentada consiste na criação de uma ferramenta assistiva a ser acoplada a bengalas dobráveis, capaz de antecipar obstáculos acima da linha da cintura, limitação ainda presente nos modelos convencionais.

 

O projeto começou com o desenvolvimento do aplicativo Acessa UnB, em 2023, que consiste em um mapa colaborativo pensado inicialmente para pessoas cegas e com baixa visão, mas com potencial de uso por toda a comunidade universitária. “Se uma pessoa vê um obstáculo no caminho de alguém com deficiência visual, pode informar no app. Assim, tornamos o campus mais acessível para todos”, explica o professor Renan Balzani.

 

As propostas seguintes incluíram também o desenvolvimento de uma pulseira vibratória sensorial, que forneceria dados georreferenciados para serem compartilhados entre os usuários no aplicativo. Durante o processo de criação dos acessórios, surgiu ainda a ideia de acoplar o sensor à bengala dobrável, formando um sistema robusto de navegação assistida. “A pulseira pode funcionar mesmo sem o celular. Se detectar um obstáculo acima da linha da cintura, envia alertas por vibração”, afirma Renan.

“Fizemos todo um trabalho de pesquisa, com participação de professores e especialistas. Utilizamos uma metodologia acadêmica em caminhabilidade para mapear zonas de insegurança e, a partir disso, começamos a desenvolver o aplicativo. As professoras Paula Lelis e Ana Carolina Lima foram fundamentais nesse processo, contribuindo com estudos técnicos e acompanhamento metodológico”, explica o professor.

 

“Desenvolvemos também uma pulseira vibratória com múltiplos pontos de vibração, que está em processo de patente no CDT. O engenheiro eletrônico Paulo Carvalho, estudante de mestrado na UnB, teve papel essencial no desenvolvimento do dispositivo, que integra sensor de proximidade e permite alertas ao usuário mesmo sem o uso do celular. O aplicativo pode identificar obstáculos e se comunicar com a pulseira para emitir alertas vibratórios”, complementa.

 

A pulseira vibratória desenvolvida na UnB está em processo de registro de patente junto ao Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT), o que representa um passo fundamental para proteger a propriedade intelectual da solução e viabilizar sua aplicação em larga escala.

 

A equipe envolvida no projeto reúne estudantes da graduação e da pós-graduação e conta com o apoio do Laboratório de Práticas Integradas em Saúde (LAPIS) da UnB e do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT/UnB). Renan destaca a importância do CDT no incentivo à inovação: “Já tive uma empresa no antigo Hotel de Projetos e sempre incentivo meus alunos a buscarem o CDT para transformar ideias em soluções reais”.

 

O Desafio Bengalas Inteligentes integra uma estratégia pioneira de incentivo à inovação em tecnologias assistivas no Brasil e foi recentemente vencedor do Prêmio Conexão Inova 2025, na categoria "Inovação Aberta e Contratação de Soluções Inovadoras". A premiação ocorreu no evento Convergência 2025, em Belo Horizonte (MG), e reconheceu a relevância social da iniciativa, que incentiva o desenvolvimento de dispositivos conectados voltados à melhoria da mobilidade de pessoas cegas ou com baixa visão.

 

Com a conquista do 4º lugar no Desafio Bengalas Inteligentes, o grupo segue para a próxima fase da competição, que prevê testes em circuito controlado com usuários cegos. O projeto receberá R$ 180 mil como premiação pela classificação entre os 10 semifinalistas. Na etapa final, as três melhores soluções receberão prêmios adicionais de R$ 500 mil (1º lugar), R$ 300 mil (2º lugar) e R$ 200 mil (3º lugar). “O que mais nos anima é que conseguimos desenvolver uma solução robusta e com potencial real de impacto. Agora teremos apoio técnico e visibilidade para aprimorar o que já construímos”, celebra o professor.

Organizado pela Rede Conexão Inovação Pública, o prêmio celebra práticas transformadoras que unem gestão pública, cidadania digital e tecnologias com impacto direto na vida da população.

A iniciativa reafirma o compromisso da Universidade de Brasília com a pesquisa aplicada e com o desenvolvimento de tecnologias sociais, contribuindo para uma sociedade mais acessível, inclusiva e inovadora.

 

Trajetória do professor e a tecnologia por trás da solução

 

Arquiteto e urbanista formado pela FAU/UnB, o professor Renan do Nascimento Balzani tem dedicado sua trajetória à criação de tecnologias aplicadas ao ambiente construído. Interessado por inovação desde os tempos de graduação, ele começou a explorar o uso de tecnologias de código aberto ainda em 2012, quando construiu sua primeira impressora 3D com base em projetos do movimento RepRap.

 

Desde então, passou a investigar formas de integrar impressão 3D, sensores, motores e placas controladoras ao campo da arquitetura e da acessibilidade. “Comecei a estudar o potencial desses sistemas não só para maquetes, mas para criar artefatos que pudessem transformar o espaço e a relação das pessoas com ele”, relembra.

 

O interesse por tecnologias assistivas se intensificou com sua participação no projeto E-NABLE, que desenvolve próteses impressas em 3D para crianças. A partir dessa experiência, passou a estudar o conceito de desenho universal, buscando soluções acessíveis tanto do ponto de vista financeiro quanto de usabilidade.

 

Para o professor, o caminho da inovação passa pela curiosidade e pela disposição em questionar o que já existe. Ele faz um convite especialmente a estudantes e professores que desejam explorar a interseção entre design, tecnologia e projetos com impacto social.

 

“É fundamental cultivar um olhar atento e curioso, que não se acomode com o que está posto. Às vezes, aceitamos soluções apenas porque elas já existem, um aplicativo pronto, uma ferramenta que sempre foi usada, mas é preciso se perguntar: o que mais poderia ser feito? Existe alguma forma de melhorar isso? Como posso transformar um problema do meu cotidiano em uma oportunidade de criar algo novo?”, provoca.

 

Segundo Renan, a inovação raramente acontece de forma imediata, mas isso não deve desestimular quem está começando. “O tempo da ciência é diferente do tempo do comércio ou da vida cotidiana. Às vezes, os resultados não são visíveis de imediato, mas com o tempo, podemos gerar impactos reais e positivos para a sociedade”, finaliza o professor.